terça-feira, 11 de janeiro de 2011

Vou contar a minha História

Vou contar a minha História


Apresentação
Chamo-me Carlos Manuel Cruz de Almeida Coelho, sou Português nasci em Lisboa na Freguesia de São Sebastião da Pedreira a 9 de Agosto do ano 1966 depois de Cristo. Sou do Signo de Leão, tenho 1,80 de altura olhos verdes cabelo escuro.

Moro numa zona rural entre Sintra e Odivelas, uma zona saloia que me dá o privilégio de me sentir livre.
Os meus tempos livres não são muitos, mas quando consigo ter algum tempo para mim, gosto muito de ler, passear, conduzir, fazer rádio, escrever, informática, e acima de tudo, estar com a família e os amigos.
Gosto de utilizar este espaço virtual para trocar experiências, informações, conteúdos, novidades, enfim, tudo que possa servir como fonte de enriquecimento profissional e pessoal.
Sou Auxiliar de Acção Educativa, trabalho a maior parte do tempo do meu dia a dia numa Biblioteca entre outras coisas... não é fácil trabalhar nesta área, mas como gosto muito de aprender e encaro as barreiras encontradas a cada dia que passa, numa escola, com desafios a serem vencidos.
Faço parte do Conselho Pedagógico, Assembleia de Escola, Representante do pessoal Auxiliar de Acção Educativa da Escola Secundária de Caneças, sou sindicalizado e já fui delegado sindical.
Não sou pessoa de sair à noite, excepção a alguma festa de aniversário de familiar ou amigo; prefiro o aconchego do meu lar e da minha família, do meu computador onde faço as minha emissões de rádio, escrevo nos meus Blogs, e guardo tudo aquilo que me possa interessar e goste.
Sou uma pessoa que adora fazer várias actividades, ter o tempo preenchido, alcançar sempre as minhas metas com muita força de vontade e determinismo. Gosto de encarar desafios e realizar com muita seriedade o que me é proposto.
Uma mania: Ouvir sempre música onde quer que esteja, sempre que possível.
O que mais chama a atenção em mim: A simpatia e a cor dos olhos
O que mais gosto em mim: Ser humano para com o próximo, A minha espontaneidade.
O que me atrai: A amizade, e tudo o que se relacione com culinária e com a música.
O que não suporto: A falsidade, a inveja e a indiferença pelo ser humano.
Algumas coisas sem as quais não consigo viver: A minha família, a música, a dança, o pão, a fruta,o leite.
Religião: Cristão católico não praticante.
Humor: inteligente...
Música: Todos os estilos dependendo da ocasião.
Carlos Coelho


Acontecimentos que Antecederam o meu Nascimento



1966 - Contextualização (Política, Tecnológica, Social, Económica)

Realizava-se o Campeonato do Mundo de Futebol, em Inglaterra. A RTP transmitia os jogos dos Magriços, que levavam os Portugueses a sonhar com um lugar na Final. O 3º lugar é brilhante, mas fica em toda a gente um gosto amargo pela derrota nas meias-finais.
Em Portugal, nunca se tinham vendido tantos aparelhos de televisão como nesse ano.
(Os Magriços) 

Lisboa, 13 de Abril de 1966



Num discurso proferido na recepção de uma comissão de forças vivas de Angola, o Presidente do Conselho mostrou grande pessimismo quanto ao futuro de uma Angola Independente. Disse designadamente:
«Como o facto da independência parece irreversível, afigura-se-me esses povos condenados, uns a uma espécie de protectorado sem título, outros à fragilidade e instabilidade institucional, abertos por isso mesmo a todas as pressões políticas. Uma coisa não percebi ainda é que em tais condições os dirigentes africanos protestam ao mesmo tempo contra o colonialismo e contra o neocolonialismo, porque destruído o primeiro, não têm diante de si senão duas alternativas: ou progredir sobre os benefícios do capital estrangeiro e da técnica internacional, com as inevitáveis e chocantes limitações da independência e a isto se chama com propriedade neocolonialismo; ou resignar-se à mediocridade, senão ao regresso de formas primitivas de vida em que a pobreza, a doença, as rivalidades e lutas tribais continuarão a ser o preço de uma independência, pelo menos precipitada.»
(Mapa de Angola)


Vila Real, 30 de Maio de 1966

Alto Rabagão: O maior investimento Hidroeléctrico.
No Planalto do Barroso, perto de Montalegre, foi inaugurada a Barragem do alto Rabagão. Com 94 metros de altura, esta Barragem pode produzir 1000 milhões de Kilowatz hora (tanto como as outras Barragens do país juntas). Custou milhão e meio de Contos e empregou 15.000 trabalhadores.
«Estamos no caminho da recuperação declarou o Ministro das Obras Públicas, Engº Arantes de Oliveira.
Nesta evolução tão notável, as fontes hidroeléctricas desempenharam o mais relevante papel. Para nos referirmos só à energia produzida, diremos, que de 30% do total em 1927 estas fontes passaram a preencher 50% da produção global em 1946 e 86% no ano passado. Cabe aqui recordar a importância que teve para este rápido desenvolvimento a promulgação, em 1944, da histórica lei nº2002, ponto de partida para o aproveitamento sistemático da potencialidade dos nossos cursos de água para o abastecimento de energia eléctrica do país.» 
(Barragem do Alto Rabagão)
Guerra e Conflito                                          



Na Nigéria, oficiais subalternos assassinaram o primeiro-ministro e os outros dirigentes políticos durante um golpe militar.



(Mapa da Nigéria)
Política e Poder
Indira Gandhi, filha do antigo primeiro-ministro Jawaharlal Nehru, é a primeira mulher Indiana a ocupar aquele cargo.
(Foto de Indira Ghandhi)

O primeiro negro Norte-Americano nomeado para o Governo dos EUA, Robert C. Weaver, toma posse.



(Foto de Robert C. Weaver)



Mais colónias Britânicas acedem à independência, algumas adaptando novos nomes.
Na China, inicia-se a Revolução Cultural para revigorar o empenho nacional em relação ao comunismo.


Ciência e Sociedade
É efectuada a primeira alunagem suave na lua por uma nave espacial Soviética não tripulada, a Luna 9, em Fevereiro de 1966. Transporta uma câmara de televisão e uma antena que durante 3 dias transmite imagens da superfície da lua para espectadores fascinados na terra.
(Foto de Luna 9)

Os cientistas Norte-Americanos Harry M. Meyer e Paul D. Parman desenvolveram uma vacina com o vírus vivo para a rubéola.

(Vírus da Rebéola)

A primeira gravação com a utilização de Som Dolby, o novo sistema de redução do ruído de fundo, é realizada pela companhia Norte-Americana Decca.

Pobreza e Riqueza

A aliança económica entre a Associação Europeia de Comércio Livre (EFTA) - A Áustria, a Grã-Bretanha, a Dinamarca, a Finlândia, a Noruega, Portugal, a Suécia e a suíça - é fortalecida com um acordo para abolir as tarifas sobre as importações de produtos industriais.
A Islândia juntar-se-á à EFTA em 1970.
A Itália e a União Soviética assinam um pacto económico e técnico; o governo Soviético estabelece um contracto de um bilião de Dólares com a Fiat para a construção de uma fábrica nas margens do Rio Volga.

Prazer e Lazer

A Capa da Revista Time, «Agitada Londres», confirma a Grã-Bretanha como Líder Mundial da Moda. Os Beatles e os Roling Stones exportam o estilo King's Road e de Cornaby Street para a consciência da moda em todo o mundo.
(Beatles)

John Lennon, comentando o fenomenal sucesso dos Beatles, profere a controversa frase « somos agora mais populares do que Jesus; não sei o que está em primeiro lugar - o Rock and Roll ou o Cristianismo».
Os discos dos Beatles são queimados por religiosos fundamentalistas nos EstadosUnidos.
*
A Série Televisiva de ficção científica Star Treek começa a ser transmitida nos Estados Unidos. Terá 79 episódios e acaba por ter o estatuto de série de culto nos 10 anos que se seguem.
(Actores da série Star Treek)
Lisboa, 6 de Agosto de 1966
A maior ponte da Europa

Eram 10.30 horas quando o chefe de Estado, em cerimónia de grande solenidade, declarou aberta ao tráfego a Ponte sobre o Tejo que vai ligar o Norte ao sul do País.

O Ministro das Obras Públicas, Eng.º Arantes e Oliveira, revelou três novos grandes projectos: a construção do Canal Tejo - Sado e de duas Auto-Estradas, uma para o Algarve, outra para a fronteira de Leste. A Ponte é um pólo de desenvolvimento económico. Foi descerrada  uma lápide onde se resume o essencial sobre o historial da Ponte:

«Esta Obra, compreendendo os acessos rodoviários nas duas margens, foi iniciada no dia 5 de Novembro de 1962, tendo o planeamento geral, condução e fiscalização estado a cargo do gabinete da Ponte sobre o Tejo, sob a direcção do Eng.º José do Canto Moniz.»

(Foto da Ponte em construção)
Lisboa, 7 de Agosto de 1966

«Que lhe pareceu  a ponte? »
Escreve o Diário de Notícias:
«Segundo informações do serviço da portagem da Ponte Salazar, nas primeiras horas de tráfego (das 15 horas de ontem à 1 da madrugada de hoje) transitaram, nos dois sentidos cerca de 200 000 pessoas.»
O movimento é tão intenso que já se fala na urgência da construção de outra ponte.
No jantar que festejou a inauguração, em Setúbal, o Ministro Arantes e Oliveira perguntou ao Almirante Thomaz:
«Que lhe pareceu a ponte?»
O Presidente respondeu-lhe:
«Parece-me que já faz falta outra.»
«Na construção da Ponte a maior da Europa e dos seus acessos foram escavados 6,5 milhões de metro cúbicos de betão, fabricadas e montadas 82 mil toneladas de peças de aço.

Chegaram a trabalhar simultaneamente na obra, cerca de 3000 operários Portugueses.
Deram as suas vindas na execução deste empreendimento quatro operários: José da Silva, Jorge Germano Ribeiro, Tutes dos Anjos Serra e Fernando Sampaio Dias Oliveira.
Esforço da geração presente, homenagem às gerações que a precederam e mensagem de confiança às gerações vindouras.»
(Ponte Salazar, que mais tarde veio a chamar-se Ponte 25 de Abril)



Estes são alguns dos acontecimentos, no ano de 1966, antecedentes ao meu nascimento.
Carlos Coelho
(Fotos da net)


Vou Contar a minha História


As minhas origens humildes vêm das beiras.
Beira alta, mais propriamente da Cidade e Distrito de Viseu.
Os meus avós, tanto paternos como maternos, eram naturais do Concelho de São Pedro do Sul, das aldeias de Oliveira do Sul e Ervilhal.
Os meus avós paternos eram naturais de Oliveira do Sul.
Augusto Coelho e Adelaide de Jesus.

(Avô Paterno)
(Avó Paterna)

(Fotos tiradas em Maio de 1971)
Tiveram nove filhos, a Lurdes, o Vergílio, o Fradique, a Leontina, o António, o Celestino, a Prazeres, a Laura e a Letícia.

Para criar estes filhos, passaram muitas dificuldades, sacrifícios e até fome.
Tinham de trabalhar as terras de outras pessoas para conseguir criar os nove filhos, (alimentá-los), mas para fazer isso trabalhavam de sol a sol como “caseiros” e ainda tinham de trabalhar as suas terras também.
Tempos de miséria e de pobreza extrema.
Tinham de além deste sofrimento todo, repartir a maior parte da colheita anual, com os donos das terras, ficando com a parte mais pequena.
Chamavam a isso (Quinhão).
Contam que passavam fome e muitas vezes, quando havia, uma sardinha era dividida por três pessoas. Muitos dos dias andavam com uma fatia de pão (broa) de manhã à noite no estômago.






(Casamento da Leontina) 
Os meus avós maternos eram naturais do Ervilhal.
António de Almeida e maria da Conceição Cruz
(Avô Materno)





(Avó Materna)
(Fotos tiradas em 1974)


Tiveram sete filhos, O Henrique, a Albertina, o António, o Amadeu, a Lucília, a Liberatae o Joaquim.
Tal como a outra família de Oliveira, para criar os filhos, passaram por muitos sacrifícios, mas neste caso fome não.
(Amadeu e Liberata)


(Amadeu e Liberata)


(Casamento do Amadeu em 13 de Fevereiro de 1965)


(Casamento do Amadeu)


(Liberata em Lisboa no Hospital)

Era uma família que tinha mais recursos, eram mais abastados, mas não ricos, longe disso.
O meu avô António era pedreiro de profissão, e trabalhava as suas terras com a minha avó para criar os filhos.
Alguns dos filhos das duas famílias  já não fazem parte do mundo dos vivos.
De Oliveira: O Vergílio, a Lurdes e o fradique
Do Ervilhal: A albertina e o António
O Celestino foi o sexto filho da família numerosa de Oliveira do Sul, veio muito cedo para Lisboa trabalhar como moço de recados para uma mercearia, depois de deixar o campo. Mais tarde, iria trabalhar para a Manutenção Militar  em Lisboa.

(Celestino)
A liberata foi a sexta filha da família do Ervilhal, veio ainda nova servir para a Rua Castilho para fugir à vida rude do campo, para tentar uma vida melhor.
(Liberata na Rua castilho, onde trabalhava)


O Celestino e a Liberata já se conheciam das aldeias vizinhas e quis o destino que se encontrassem em Lisboa.
Começaram a namorar e depois de algum tempo de namoro foram casar à terra que os viu nascer, a 3 de Outubro de 1965. Foram seus padrinhos de casamento a Lucilia e o Joaquim.



(Casamento de Celestino e Liberata)



(Padrinhos Lucília e Joaquim)
Depois de casar, vieram para Lisboa para tentar melhorar a vida. Enfrentaram muitas necessidades, porque a vida não era fácil nessa altura, ainda mais porque vieram morar para casa da Leontina (irmã do Celestino) em Odivelas, durante uns tempos até arranjarem a sua própria casa (alugada).
A vida tornou-se mais complicada ainda, os ordenados eram pequenos e pouco sobrava para comer depois de pagar a renda.
Quis o destino, e talvez a falta de informação nessa época que a Liberata ficasse de esperanças (grávida).
Numa Terça-Feira de manhã, no dia 9 de Agosto de 1966, nascia eu. Um bebé de sexo masculino. Filho de Celestino de Almeida Coelho e de Maria Liberata Cruz de Almeida.
Nasci na Maternidade Alfredo da Costa em Lisboa, natural de Lisboa, da Freguesia de S. Sebastião da Pedreira, Distrito de Lisboa.


(Boletim do Dispensário de Odivelas do Instituto Maternal, Consulta de Puericultura)


Deram-me o nome de: Carlos Manuel Cruz de Almeida Coelho.


Carlos: Significa homem e indica uma pessoa que nunca deixa uma oportunidade passar em branco por estar desatento ou por ter medo de riscos.
Manuel: Nome Hebraico que quer dizer: “Deus está Connosco”.
Cruz: Nome Português, refere-se à cruz de Cristo.
Almeida: Nome (Árabe) – Al + maida, campo plano, chão plano.
Coelho: Nome Português.


(A minha Cédula Pessoal)


Fui baptizado na Igreja Paroquial do SS. Nome de Jesus de Odivelas a 11 de Setembro de 1966 num belo domingo pelo Sr. Padre José Carlos Belchior.


(Os meus Padrinhos no dia do meu baptizado)


Baptizaram-me com 1 mês de idade porque todos pensavam que eu não sobrevivia, derivado ao parto que foi muito complicado. Nasci com alguns problemas porque fui tirado a ferros e fiquei muito magoado e até ferido em várias zonas do corpo.


(Foto do meu baptizado)


O meu pai trabalhava na Manutenção Militar em Lisboa, era Caixeiro num armazém de vinhos.
A minha mãe trabalhava a dias e mais tarde foi para as limpezas na Manutenção Militar, eu ficava entregue a uma ama, perto da minha casa em Odivelas, mas sempre que havia uma possibilidade, iam para a aldeia trabalhar aos fins-de-semana porque isso significava ter mais recursos alimentares, (batata, feijão, pão de milho cozido no forno a lenha, enchidos etc.), mas mesmo assim nos finais dos anos 60 a vida era muito madrasta.


(Foto da Minha Mãe)


A minha mãe conta que muitas vezes as dificuldades eram tantas, que deixava de comer parte do almoço dela, para no dia seguinte, levar para a ama para ela me dar ao almoço.


A minha família a que eu chamo “ doméstica” porque vivíamos na mesma casa, era constituída por meus pais avós e tios.
Tive o prazer de conhecer os meus avós e os meus tios. O relacionamento com os meus avós de Oliveira era esporádico, nas férias, ou fins-de-semana, sempre para trabalhar no campo.
Tive uma ligação mais intensa com os meus tios maternos, a Lucília é a minha madrinha, a Albertina, o Amadeu, o Henrique, que desempenharam junto a mim atribuições educativas nada inferiores à dos meus pais e me dedicaram testemunhos de amor que eu também lhes correspondia e muito particularmente ás mulheres.
Refiro-me a estes quatro tios que me acompanharam nos primeiros tempos de vida. Cultivava-se entre nós as amizades baseadas no parentesco. Considerávamos família próxima (era assim que a designávamos) os tios-avós paternos e seus filhos, meus primos.
Não podia deixar de falar, e de forma muito especial, nos meus tios-avós, maternos.
Todas as famílias têm algo que as caracteriza e a minha não era diferente.
Tenho de reconhecer que, na minha família, a autoridade efectiva foi exercida por meu avô; os meus pais ocuparam sempre um lugar menos destacado do que os meus avós até um certo momento da minha vida.
O ambiente da minha família era marcado pela austeridade. Tinha-se em grande conta, o bom-nome, a boa fama. Respeitavam-se escrupulosa-mente os direitos alheios, tendo a preocupação de não prejudicar ninguém. Havia mesmo a clara intenção de ajudar, nos trabalhos agrícolas, com o auxílio alimentar.
Outra característica era a profunda religiosidade que ali se vivia. Os meus avós assistiam à missa todos os domingos e comungavam frequentemente. Os restantes membros também eram habituais nos actos de culto, nomeadamente na reza do terço, na Capela, que ficava do outro lado da Rua ao pé da nossa casa, e ainda outro em casa durante o serão de inverno.
O meu avô antes de cada refeição dava graças a Deus pela comida que nos era destinada a cada refeição.
Nos meses frios, tínhamos o aquecimento fornecido por uma grande fogueira, na lareira da cozinha, onde geralmente se reunia a família e a até os visitantes e os amigos. Ali tínhamos uma grande mesa para as refeições.


A Infância


(Eu Com 9 meses)


O que me lembro dessa época é nada. Lembranças da minha infância até ao dia de hoje, vejo mesmo que através de lembranças voltar ao passado e reviver momentos que me deixam saudades, momentos que de certa maneira me ajudaram a construir o que sou hoje.
Acho que na infância, antes até por nunca ter parado para pensar no assunto tinha um olhar muito só meu.
Uma fase de brincar e não me preocupar com nada. É uma fase onde acontece tudo ao nosso redor e de algum modo absorvi tudo.
Vivi, experimentei, errei e aprendi acima de tudo.
Aprender acho que é a palavra-chave de infância, aprender nos pequenos momentos e detalhes da minha vida.
E hoje vejo que tudo o que recebi quando era criança, tanto cultural, moral, educacional, conflitual, enfim todas as formas de saber e de aprendizagem me fizeram crescer, aprender, criticar, e fizeram-me chegar até aqui, mesmo com todas as dificuldades e barreiras da vida.
Realmente tenho poucas lembranças e sei efectivamente que elas aconteceram. Por acreditar que vivi na minha infância factos reais e posso relatar aqui momentos que são fruto de uma realidade.
Porque se não fosse real a infância, qual era então a minha função aqui na terra?
Para que estava aqui?
Já que tudo o que faço ou penso é real. Prefiro acreditar nas minhas lembranças e ver que a minha vida hoje é algo que existe e tenho plena convicção que a minha infância foi real.
Aqui nesta altura o meu caminho só estava a começar e a construção do meu conhecimento também. Tinha ainda muito que andar pela frente e foram esses caminhos que me levaram sempre a seguir em frente.
Os meus pais também não obtiveram grandes ensinamentos, mas foram fundamentais na minha educação, eles ensinaram-me o que sabiam, valores morais, que ainda hoje trago comigo.
Sei que eles poderiam ter-me ensinado mais, mas porém eles não o fizeram por má vontade, mas sim porque na época os ensinamentos das crianças eram mais restritos. Não havia uma abertura à conversação como há hoje. Era nessa altura impensável falar de todos os assuntos. A maior parte deles eram mesmo tabus.
A minha maior luta na infância, foi enfrentar as próprias barreiras, os meus medos. Uma infância controlada pelo factor tempo, que nos mostra a hora de acordar, comer, etc.
O tempo também era algo que fazia parte da minha infância. Perguntava-me muitas vezes porque razão a minha mãe me deixava ali e não tinha tempo para mim. O tempo também me foi respondendo a essas perguntas.
Agora consigo compreender, ao máximo tudo o que a infância significa, trabalhar a educação com calma e ter por objectivo central uma formação digna para ser um futuro adulto.
Mas aí comecei a construção de uma identidade. A minha identidade.
Tive uma infância tranquila e bem pacata! Aprendi porque tinha capacidade para aprender, mas só me ensinaram o que acharam que eu deveria aprender…
Ao relembrar estas minhas memórias que registaram todo o meu desenvolvimento infantil, tenho em mente um sentimento de orgulho e saudade. Durante este ciclo foi fundamental o trabalho conjunto de algumas pessoas que me lembro bem junto ao apoio e auxílio dos meus pais.


(Eu, e os meus pais)


Analiso toda esta trajectória com um profundo orgulho nos meus pais e saudades dos momentos em que me conheci como criança e sonhos infantis.
Lembrar a infância quando ela foi pobre mas feliz e tão revigorante. Como era filho único e o bijú da casa os meus companheiros nas brincadeiras eram os meus primos.
Na minha infância houve espaço para brincar na rua, e era muito saudável, cultivavam-se as amizades de rua. Infelizmente, hoje em dia os miúdos preferem ficar em casa, com os computadores e as Play Station.
Lembro-me de ir com os meus pais aos poucos parques “jardins” que existiam em Odivelas, onde havia baloiços, escorregas e lagos com peixinhos. Aquele lago com peixinhos que ainda hoje existe ao pé do Convento de Odivelas que muitas vezes fez as minhas delícias.


(Eu, no jardim do Convento de Odivelas)


O Concelho onde morava era arredores da grande Capital Lisboa.
Existiam quintas. Respirava-se ar puro.
Lembrar-me de sítios onde passei seis anos de fundamental importância na construção da minha identidade, os momentos que começavam a marcar a minha vida.


(Eu a andar de cavalinho)


O tempo passou, criei mais responsabilidades e motivações para continuar a minha caminhada, cada ano que passava era um grau de dificuldade, que tinha de superar. Sofria para me adaptar à minha nova realidade.
Nessa altura o meu caminho só estava a começar, a construção do meu conhecimento também, mal eu imaginava os ainda muitos passos que tinha pela frente e o que me esperava pela vida fora.
Numa altura onde para mim criança “não existia tempo”.
O engraçado é que eu lembro-me de tudo como algo muito intenso, mas sempre situado com o tempo das histórias que a minha mãe conta, até essa idade. E o que me lembro dessa época é nada.
Era a dificuldade que tinha de me largar da minha mãe. Todos os dias na hora que a minha mãe me ia entregar à Ama que era a D. Deolinda, desatava a chorar…


(Eu, ao colo da minha Ama (D. Deolinda) com os meus tios, o Joaquim a Laura e a Prazeres)


Até que me acostumei e passou essa fase.
Confesso que no primeiro momento não devia ter gostado da ideia, pelo que a minha mãe conta. Sofria, não entendia o porquê daquele lugar. Mesmo sendo essa “separação” por algumas horas, na minha cabeça com todos esses acontecimentos de mudança pareciam uma eternidade.
Antes vivia no meu mundo, onde me sentia protegido com o Amor de Mãe onde todas as minhas vontades e necessidades eram realizadas com prontidão e onde as atenções estavam centradas somente em mim.
Esse sofrimento durou algum tempo, segundo a minha mãe diz, alguns meses. Foi difícil entender e aceitar, dividir tudo com outras crianças, na Ama.
A Ama passou a ser um lugar de realização e conquista, construindo assim em mim um ser sociável, nos momentos que marcaram o meu início de vida.
Hoje compreendo que a infância é uma condição de experiência que vai sendo adquirida de acordo com o que vamos vivendo até uma certa idade.


(Eu, num cavalinho de madeira)


Enfim, acho que a minha infância foi normal para a época e não tem um limite temporal, até tem um limite de idade, mas a ideia do tempo cronológico tem sido idealizado por mim, para eu definir quando começou e quando acabou esta fase da minha vida.
A infância não é apenas uma questão cronológica: a infância é uma questão de experiência.
O ser humano é o único animal que aprende a falar, e não poderia fazê-lo sem infância.
Talvez a minha memória possa ser algo da ordem do afastamento do passado, da recusa do outro tempo.
Na minha infância os meus pais passavam parte da vida deles acima e abaixo. Aos fins-de-semana o programa era: Rumo a São Pedro do Sul.
O trabalho do campo lá os esperava, eu acompanhava-os claro. Aos poucos também fui aprendendo as suas lides.
Eles iam trabalhar nos fins-de-semana para podermos ter mais alimentos e uma vida um bocadinho melhor, porque só com os ordenados e a pagar uma renda e à Ama era muito difícil.


Mas é no Ervilhal que guardo a minha infância. A casa dos meus avós, tios e tias.


Acordar numa das casas que constituem o casario do Ervilhal, olhar para trás e ver a Serra de São Macário ali em primeiro plano, só para mim (exclusivamente).


(Foto do Aspecto da aldeia no sopé da Serra de São Macário)


Brincar com os meus primos nas ruas de calçada de pedra de uma aldeia à moda antiga onde até o tempo se esquecia de passar.
A casa no “santo” perto da Capela de São Silvestre, meu quarto com vista para a “fiadela” e os campos de erva verdinha para o gado.


(Aspecto geral da casa dos meus avós)


(Janela do meu quarto)


De cima da janela do meu quarto via o galinheiro com galinhas, pintos, coquichos e também as capoeiras dos coelhos. Por baixo no rés-do-chão, nos currais havia num porcos, no outro cabras e ovelhas e no outro vacas.
A estrumeira no quintal com o estrume biológico para estrumar as terras de cultivo. Lá no fundo estava o moinho onde se moía o milho, para a minha avó Conceição fazer a broa de milho, nas vindimas, fazer o vinho.
As castanhas e os magustos sempre presentes…
Quanto a divertimentos, haveria muito a dizer, mas também se pode resumir a pouca coisa. As crianças tinham a sua maneira de se entreter, variavam as brincadeiras segundo a época do ano. De Verão ia-mos para o rio brincar e apanhar peixes para, depois os pormos nos tanques de rega.
Eu e os meus primos fazia-mos carrinhos de vacas com “cordeca”, casca dos pinheiros grossos. Brincava-mos às escondidas e no meio do monte fazia-mos réplicas das aldeias e com os carrinhos brincávamos como se fossemos adultos em tempo real.


(Eu, e os meus primos)


Tomar banho num tanque que tinha água para regar, que vinha directamente de uma das muitas minas lá da serra, onde se ouvia os resineiros com as suas apoupadelas e também as vozes cristalinas com o canto que saía das vozes das camponesas que trabalhavam o campo. Beber aquela água transparente e gelada, comer fruta directamente das árvores de fruto. (Maçãs, Peras, Uvas, Castanhas, Laranjas etc.)
Naquela altura as raparigas não se misturavam com os rapazes. Eram só rapazes a brincar por aqueles pinhais acima. Brincava-mos com fisgas feitas de elástico de arranjar a roupa que tirávamos ás nossas avós ou mães, e os cabos eram cuidadosamente cortados das árvores.
Alguns que vinham de Lisboa já traziam nessa altura bicicleta para brincar, mas eu não tinha. Os meus pais não tinham dinheiro para isso.
Também na “minha aldeia” que é assim que eu digo, era algo de muita dedicação. Tinha entrada franca num bom número de residências, todas as dos meus parentes, todas onde houvesse crianças da minha idade, e as dos numerosos amigos de meus pais e avós. Entrava em todas as casas com o à vontade com que entrava na minha.
Mas esse tempo não volta, as famílias, os primos os amigos, cada um foi à sua vida como eu fui à minha.
Os avós morrem…e a vida essa, têm de seguir em frente.
Agora consigo compreender que a Ama sendo um lugar onde passava o dia todo e também lá no Ervilhal podia explorar ao máximo tudo o que a infância significava.
Lembrar a infância quando ela embora pobre foi tão feliz, é tão compensador.
Aprendi muitos valores e princípios que guardo até hoje.
Acho que na minha infância o quintal onde por muitas vezes brinquei era muito maior do que a cidade onde morava.
Passei ali bons tempos da minha infância em São Pedro do Sul. Gostava muito dessas temporadas, pois era tratado com mais mimo ainda do que em casa dos meus pais. Eu era para aqueles meus avós (bons amigos) “O menino Jesus”. 

© Carlos Coelho 
Fotos Pessoais  

São Pedro do Sul...






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